quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Minha Vida





No dia 06-10-1915, na Fazenda da Floresta, Distrito de São José do Rio Preto, então pertencente a Juiz de Fora, hoje Distrito de Belmiro Braga, com o nome de São José das Três Ilhas, nascia Fabio Nery, 6º filho do casal Domingos Ribeiro Nery e Maria Batista Guimarães Nery.

Foi criado na roça (Fazenda da Floresta), onde conheceu as primeiras letras com a professora Anita dos Santos. Depois foi para a escola em São José e concluiu o curso primário. Foi para Juiz de Fora fazer o exame de admissão na Academia de Comércio, aos 12 anos, indo para o internato e ingressando no curso ginasial. Como seu pai não podia arcar com a mensalidade e como tinha sido sempre bom aluno, a direção do colégio deixou que estudasse sem pagar e assim pode concluir seu curso secundário, graças ao auxílio de amigos, parentes e a compreensão da direção do colégio. Terminado o seu curso teria que tentar um curso superior. Vocação- Medicina. Fez inscrição para o vestibular na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em fevereiro de 1933. Saindo da Academia, enfiou a cara nos livros. Sozinho, na roça, sem nenhum auxílio, sem recurso para freqüentar um cursinho “pré- médico”. Autêntica vida de estudante pobre! Não foi aprovado e voltou rumo a sua casa. Mas continuava otimista e nunca perdeu a esperança em dias melhores. Após ter estudado Álgebra, Cosmografia, Ciências, Alemão Francês, Inglês, Latim, teve que ficar na roça, atrás dos trabalhadores de enxada e fazer outros serviços braçais. Em 1934 o chefe político do Distrito, Sr. Dario José Pinto, que tinha fazenda em Três Ilhas, mas morava em Juiz de Fora, o levou para a sua casa na cidade para arranjar-lhe um emprego, pois achava um desperdício ele ficar na roça com tanta sede de saber. Sua vontade sempre foi estudar, estudar, estudar. Começou a sua segunda jornada fora de casa. No dia 1º de dezembro de 1934 começou a trabalhar na “Editora Mineira S/A”, empresa que havia adquirido os jornais “Gazeta Comercial” e o “Correio de Minas”. Foi revisor de jornal, o início da nova profissão. Foi esplêndida a escola para ele. Da revisão para redação foi um pulo. Mas as dificuldades continuavam. Fora de casa, sentia muita falta da família. A experiência para quem daí para frente viveu e conviveu com o mundo, numa luta constante pela sobrevivência. Valeu. Foi consolidando seu caráter, firmando sua personalidade, aprendendo a lidar com pessoas diferentes no agir e nas várias profissões. Depois passou a dirigir a sessão de esportes do “Mercantil”. Aí então foi morar em uma pensão.

Em 1936 prestou vestibular para a Escola de Medicina, que funcionava na Escola de Farmácia e Odontologia, na Rua Espírito Santo. Eram poucos alunos. Havia uma turma no 2º ano. Cursou o 1º ano e antes do reinício das aulas do ano seguinte (1937), o diretor Dr. João Ribeiro Vilaça, informou que não tinha condições de oficializar o curso de Medicina, razão porque a Escola seria fechada. Em 1938, fez vestibular de Odontologia, curso de três anos e se formou em 1940.
Durante o curso muita coisa aconteceu. As dificuldades financeiras continuaram e o ordenado não dava para pagar o curso de Odontologia. No final do 1º ano, 1938, não tinha como pagar a taxa pra prestar a prova de novembro e num gesto de grandiosidade, os colegas (8) cotizaram e lhe entregaram a quantia que precisava, passando para o 2º ano. Continuou o mesmo problema e pensou em desistir. Recebeu um bilhete de sua mãe: -“Filho, soube que vai parar de estudar. Não faça isso, eu lhe peço. Sua mãe”. Prensado entre a falta de dinheiro e o bilhete de sua mãe, tratou de arranjar uma saída. Conseguiu um empréstimo com dois avalistas, que saldou aos poucos, com dificuldades. Mas foi o jeito de obedecer e atender ao sacrossanto “bilhete” materno. No 3º ano a mesma coisa. O diretor do jornal Dr. Renato Dias Filho o levou pelo braço até a Prefeitura (Prefeito Dr. Rafael Cirigliano) e conseguiu uma “bolsa de estudo”. Assim se formou Cirurgião Dentista. Foi criado na Igreja Católica Apostólica Romana e assim Deus colocou em seu caminho muitas pessoas que o ajudaram a conseguir o seu objetivo: se formar.

. Casou-se em 1941 com Maria Apparecida de Barros Nery, com quem teve dois filhos: Luiz Fernando de Barros Nery e Alcione de Barros Nery.

Exerceu a profissão durante 10 anos. Na Faculdade de Odontologia esteve atuando por três vezes. Assim:
1º 1938/1940- como estudante,
2º- 1948/1950- como professor,
3º- 1961/1981- como professor e Diretor.

“Pertencia ao Grupo Brasileiro de Professores de Ortodontia e Odontopediatria” (um grupo de professores especialistas que honram a Odontologia Nacional), comparecendo às reuniões anuais em várias cidades do Brasil e se tornando orador oficial do Grupo, sempre levando uma mensagem fraterna. Em uma das reuniões foi proposto e aprovado o Título de Sócio Honorário do Grupo, o que lhe encheu de orgulho, tendo procurado manter a altura da honraria.

O nome de Fabio Nery é intimamente ligado à história política local. Como vereador, na gestão 1947/50, alcançou destaque, principalmente ao conseguir assistência odontológica para o trabalhador do campo, através da instalação de consultórios em todos os distritos.

Nos dois governos do prefeito Adhemar de Andrade foi, além de vice-prefeito, diretor da Divisão de Educação e Cultura, concedendo mais de mil bolsas de estudo. Junto ao Estado, atuou como oficial de gabinete da Secretaria de Viação e Obras Públicas, no governo de Juscelino Kubitscheck. Sua vida acadêmica foi intensa. Era formado em Direito e Odontologia, tendo sido professor da Faculdade de Odontologia da UFJF, chefe do Departamento de Patologia e Clínica Odontológica, além de Diretor.

A sua ligação com a Federal iria mais longe. Fabio Nery integrou o Grupo de Trabalho do Programa Avançado em Tefé, no Amazonas, e foi presidente do Conselho de Curadores.

Como Vicentino Fabio Nery tinha na humildade e na caridade princípios básicos de vida. Atuou como membro do conselho curador da Fundação Hermantina Beraldo, do Rotary Clube Juiz de Fora – Sul e presidente do Conselho Deliberativo do Educandário Carlos Chagas
.
O prazer pela escrita seria demonstrado como revisor de jornal, cronista esportivo e carnavalesco, sendo ainda autor de artigos publicados em revistas e do livro “Memórias Minhas e dos Outros”.

Sua atuação nos esportes também foi ampla. Presidiu a Liga Juizforana de Basquete e a Liga Mineira de Ciclismo, foi vice-presidente do Clube Juiz de Fora por três mandatos e integrou o Conselho Deliberativo do Tupinambás Futebol Clube por 30 anos.
Foi, até o final da vida, um homem atuante, emprestando seus conhecimentos e serviços a diversos órgãos e entidades, como o Abrigo Santa Helena e a Associação de Proteção e Combate ao Câncer (Ascomcer), dos quais era conselheiro.

O Legislativo de Juiz de Fora o homenageou com o título de Cidadão Benemérito do município e com a Medalha do Mérito Legislativo, em 2003, “por ocasião do “Sesquicentenário da Câmara Municipal de Juiz de Fora”.

O ex-vereador Fabio Nery morreu no dia 22 de maio de 2005 aos 89 anos, de insuficiência cardíaca, na Santa Casa de Misericórdia. O velório foi na Câmara Municipal. O enterro aconteceu, às 10h, no Cemitério Municipal. O presidente, vereador Vicente de Paula Oliveira (Vicentão-PTB), lamentou o falecimento, em nome de todos os legisladores, reconhecendo o trabalho de Fabio Nery por Juiz de Fora. Deixou viúva, dois filhos, três netos e dois bisnetos.

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